quinta-feira, 24 de setembro de 2009

O amor e seus temperamentos

“A experiência de sobrevivência é a chave
para a gravidade do amor.”
Esta frase, cantada majestosamente em Gravity of Love, interpreta de forma gloriosa e poderosa o que se baseia nossa existência, aquilo que somos e o que fazemos para ser. Pode ser em um amor de verão, pode ser em um grande projeto ou até mesmo em um jogo de pôquer. O fato que conduz todos esses eventos pode vir de diversas maneiras, mas há uma singularidade, é o que faz, de modo a posteriori,  intervir em nossas vidas; em intervir para que continuemos a seguir em frente.

Certo, não descreverei o que é  ou para o que serve o amor, muito menos ousarei tentar demonstrá-lo. Uma coisa é fato, todos o temos, pois se nem em Hurt, no final, há a falta de esperança, e a esperança é motivada pelo amor, como podemos negar que o importante no amor não é se temos ou o sentimos, e sim como o sentimos? Se é verdade que ele todos sentimos, e que sentimos de maneiras diferentes; então o que realmente importa é o que consagra e alimenta o amor, a combustão da realidade pejorada pela própria interpretação, não nossa, não de nosso consciente,  mas dele.
Sabemos como o amor faz as pessoas agirem, mas não podemos compreender o que leva ele a ter o controle, a condizer rastros de insanidade e brutalidade ao mesmo tempo em que é amadurecido e compreensivo. Mas, se há um combustível que é primordial em seu funcionamento, este é o fato. Quando digo fato, tento expressar as situações anormais que alteram sua forma, seu ponto de equilíbrio. Há muito tempo, um autor de uma das maiores obras sonoras contemporâneas sobre o assunto, conseguiu imprimir em simples dizeres o que chamo de fato quer realmente representar. E há alguns anos, conseguiram ombrear, de forma totalmente associativa, porém indiretamente, seu feito através de uma história, história esta que foi gravada e chamada de Antes que termine o dia (If Only).

Este filme, realizado em 2004, fala sobre intensidade e acomodação, ou seja, sobre o fato. Escreverei sobre o filme, o conciliando com a música, e demonstrarei o quão poderoso pode ser a manipulação de um sentimento a princípio puro e de claras intensões. Por favor, se não assistiu ao filme, não continue lendo.

A música começa com uma voz feminina dizendo:
“Vire-se,
e cheire o que você não vê,
feche os olhos,
está tão claro.”
Por quê virar? O que não vejo? Talvez essas são ordens dadas à aqueles que estão fartos, estão contemplando a inércia de suas vidas, as repetidas faces dos eventos diários. De mesmo modo, o filme inicia com um aspecto cotidiano, onde cada detalhe parece estar presente de forma categórica e maciça, como se fossem ditados por regras imutáveis de uma antiga convenção.
Conhecemos os dois coadjuvantes, instrumentos sólitos em conformidade com o passar de seus dias, porém, aquele dia, não era como os outros. O casal de coadjuvantes iria se separar por duas semanas, pois Samantha, namorada de Ian, iria viajar para longe, onde haveria um noivado na qual mesmo tendo ambos sido convidados, como um homem de negócios, Ian não poderia deixar de cumprir importantes agendas em sua cidade, estando segundo sua visão, impedido de ir junto.
Samantha o entendia, mesmo continuando sua insistência em persuadi-lo a estar presente, e como despedida, iria realizar um concerto que há três anos se preparava. O dia foi agitado, uma grande reunião esperava por ele, e isto o distraiu de tal importante demonstração de afeto e solidariedade de sua amada, esquecendo completamente o quão importante aquele dia era.
“Aqui está o espelho
Por trás há uma tela
Ambos os caminhos você pode seguir”
Todos temos opções, todos temos a oportunidade de toma-las, e o que nos difere não são as decisões que tomamos, e sim como as escolhemos. Podemos resolver um problema imediatamente ou podemos deixar ao relento contra o tempo. Todos estes problemas procrastinados pelo casal, mediante a grande contribuição de Ian, arrimado pelas suas distrações, tornou o final da noite, após vários problemas com os acontecimentos do dia, um espetáculo do desapontamento e sentimento de perda, interrompida por uma despedida agoniante e definitiva. Tudo dirigido por uma regência de sucessivas más escolhas desestimuladas por um já não tão ativo amor.
“No olho da tempestade você vê um pombo solitário'”
Após a trágica despedida daquela noite, em sua frente, Ian observa sua companheira partindo, nesse momento, a câmera o foca, mostrando-o com suas emoções alteradas, mostrando que o amor foi alimentado e que está atuando naquele momento, ou seja, ele está na tempestade, conturbado pelo ocorrido. Então, acontece, como uma grande explosão dos fatos ocorridos durante aquele dia, um acidente ocorre, e as forças daquele homem, que na manhã do mesmo dia, estava totalmente controlado por seu ego e coerência. Assim, morre Samantha.
“Oh furtuna, velut luna”
“Ó desgraça, como a da lua”, cantam as vozes de forma distante e vagarosa na música, com batidas de baterias violentas por trás, mas, qual a desgraça que sofre a lua? Talvez seja porquê rodea seu amado mundo, atraída por sua elegância e compostura, mas, mesmo tendo forças para tentar, não pode o alcançar, apenas pode lembrar de outrora, quando seu amado e ela eram partes de um só corpo. Hoje, as marcas permanecem e fincam em sua pele, a esperança já não existe, mas a gravidade ainda chama pela sua alma. As escolhas foram tomadas, o fato apenas seguiu o caminho na qual foi direcionado.
“Olhe ao seu redor, há só pessoas
Consegue ouvir a voz?
Encontre aquele que te guiará
Aos limites de sua escolha”
Horas antes do acidente, Ian encontra um homem, um taxista, que podemos simbolizar como um guia para as escolhas. Sua já preocupação pelos desastres daquele péssimo dia, foi identificada pelo motorista, que iniciou uma conversa, a princípio genérica, mas que depois se tornou em um conflitante choque de conselhos e exigências de respostas, estas que foram cruelmente indagadas aos passageiro. Ele o guiou até o local onde mais tarde se condensaria todos os problemas prestes a consumirem todo o combustível de amor que ele tem a ela, mas só por alguns momentos, momentos que faria ele se encontrar no olho da tempestade.
“Não pense duas vezes antes de ouvir seu coração
Siga o rastro de um novo começo”
Na manhã seguinte, ao acordar, sem nenhuma perspectiva de uma vida que se revigorará, Ian abre os olhos e encontra Samantha, ao seu lado, em uma manhã como qualquer outra. Não conseguindo de imediato entender o que ouve, Ian se assusta e rapidamente levanta de sua cama, ofegante, de forma a temorizar a mulher ao seu lado. Samantha, após o consolar com sua bondade sempre explícita na obra, volta para sua vida, porém, o que percebe aquele até então homem de negócios, é que tudo está se repetindo igual ao dia anterior, tudo em detalhes, mesmo que em ordem diferente, e isso, mais uma vez, reacende sua chama que na noite passada havia explodido e apagado. Ele, a partir dali, compromete-se em não refazer a mesma história.

Podemos perceber tal fantasia como uma segunda chance dada pelo amor, como um presente da esperança promovida pela necessidade de sair do olho da tempestade e alcançar os calmos mares além dela. São limites dados aqueles que guiam-nos pela vida. Mas quem são estes? Nossos amigos? Nossos planos finais? A visão de uma vitória? Cada um tem seu instrumento para trilhar seu próprio caminha e conhecer a energia que alterará tudo em si.
“O caminho da exceção te leva para a Torre da Sabedoria”
Após enfrentar todas as desavenças, seu coração está aberto, e assim ele mostra tudo aquilo que estava escondido no seu passado, ele realmente se entrega ao amor de sua vida, realmente habita na Torre da Sabedoria, pois agora ele age com seu discernimento criado pelo arder que está dentro de si. Ao final do dia, após conseguir tudo o que não conseguira anteriormente, ele ainda não se vê satisfeito, pois o taxista novamente aparece, desta vez sendo a última, apenas para fazer novamente a questão que tanto o afligiu, que desencadeou todos os fatos.
“A experiência de sobrevivência é a chave
para a gravidade do amor.”
Desta vez, sem pensar duas vezes, e no limite de sua escolha, ele vai ao rastro de um novo começo; de uma nova página. Ao entrar no carro, símbolo dos caminhos de sua vida, ele percebe, como foi dito no momento oportuno do dia inicial pelo taxista, que deverá entregar tudo o que é e tudo o que deseja ser para ela, pois esse é o seu desejo: Ser ele e ela um só corpo, uma só alma. Ao passar pela avenida, com a respiração entorpecida pelos pensamentos, que em comparação eram muitos, decide por unir-se a ela, quando o acidente novamente ocorre, morrendo, fazendo com que naquele momento, não se pudesse mais o chamar de homem de negócios.

A força do amor é apenas uma chave, apenas uma energia neutra que tem de ir para algum lugar, e este lugar somos nós quem escolhemos. Agora, mesmo depois de sua morte, o amor permanece diferente dentro dela, pois a esperança vive.

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